24.4.05
ix. todos nós somos dois, o que somos e o que não somos. para além disso, no que somos, somos a cápsula simultânea do bem e do mal, como o dr. jekyll e o mr. hyde. pelo que é estranho que seja já tarde quando nos descobrimos, quando descobrimos que os monstros somos também nós.
serge gainsbourg, “docteur jekyll et monsieur hyde”, in en concert - le theatre le palace 80, 1980.
17.4.05
viii. um dos exemplares mais domésticos da galeria dos monstros é o diabo. o diabo é um anjo caído, condenado ao chão. é um monstro que erra pela terra e cujo único ofício é a procura de portas. é por isso que, passado esse limiar de reserva, ultrapassada essa franquia de segurança, o diabo está no meio de nós.
experience, “le diable sur ta porte”, in hémisphère gauche, 2004.
10.4.05
vii. no mundo dos monstros, não há maior miséria do que a pobreza de posses. não ter ou ter poucos haveres que entretenham faz-lhes a tristeza. entre os anjos, a espécie mais ociosa dos monstros, é assim também.
mão morta, “anjos de pureza”, in há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável, 1998.
3.4.05
vi. um dos menos falsos dos monstros é o anjo novo, aquele que paira sobre os destroços e, de cima, superior, anuncia a decadência e as sombras da modernidade. é esse anjo, o anjo novo - o único dos monstros não fingidos -, que diz: sou o vigilante da nova aliança e da desesperança.
mão morta, “eu sou o anjo do desespero”, in müller no hotel hessischer hof, 1997.
2005/2022 - constantino corbain (alguém por © sérgio faria).