25.5.08
xcvi. e quando o levantamento não basta - por não encher a carne com a agitação suficiente -, quando o corpo não alcança a comunidade feita na rua - porque na multidão os outros permanecem estranhos -, quando o arremesso de pedras e as crateras abertas no chão não são motivo comum - porque propiciam o acidente, não o encontro -, aumenta o chamamento dos monstros de dentro para o tumulto, a que os gestos correspondem, confirmando o incêndio na coreografia dos distúrbios.
jens lekman, “do you remember the riots?”, in when i said i wanted to be your dog, secretly canadian, 2004.
18.5.08
xcv. o fim é o nome de um dos monstros de passagem comuns. sob o seu efeito, tudo parece terminar como se não houvesse depois, como se, após a falência ou a separação dos amantes, as margens de um princípio novo e possível tivessem sido extintas. nesta sequência começa o purgatório, a memória da traição, o limbo da solidão, continua o fim. e, porque a culpa não se transmite por herança, aí o abandono dura até ao momento do resgate pela sedição. os monstros do princípio apelam à insurreição.
the national, “daughters of the soho riots”, in alligator, beggars banquet, 2005.
4.5.08
xciv. a sociedade é o teu monstro da guarda, sê-a também. segue a voz que te indica a revolta como solução. deixa de esconder-te na tua reserva mental, ergue o teu corpo em barricada, empresta-o à força da presença. vai, continua. a sociedade está dentro de ti tal como tu estás prenhe de rua. não adianta tentares fugir, para onde fores, dentro ou fora, levarás a sociedade contigo também. o que escondes é o que mostras.
elbow, “some riot”, in the seldom seen kid, geffen records, 2008.
2005/2022 - constantino corbain (alguém por © sérgio faria).