1.2.09
cxvii. há só dois lados, costuma dizer-se, o direito e o avesso, o bem e o mal, não há vaga intermédia. admitida, esta asserção torna a geometria e a distribuição pelo espaço fáceis. mas de que lado estão os vultos e os corpos alados que extraímos de nós e imaginamos? estão no flanco nosso? ou estão no flanco alheio?, o dos monstros. a resposta falha justamente porque tais vultos e corpos alados são as sombras que, como irmãs negras, nos acompanham ou prenunciam. ao caçarmos essas sombras procuramos os espectros em que nos projectamos, disparamos sobre o nosso lado escuro, denunciamo-nos pelo escopo e pelo alvo, no arremesso e no acolhimento do impacto. isto não é feitiçaria, é estupidez.
iliketrains, “we go hunting”, in elegies to lessons learnt, beggars banquet, 2007.
2005/2022 - constantino corbain (alguém por © sérgio faria).