29.6.08
xcix. diante da margem, o limite da nossa carne, que em autêntico constitui um precipício, são muitas as dúvidas. uma dessas dúvidas é sobre a fome dos monstros, até onde alcança. é por isso que, sob a culpa do figmentum malum que somos, perguntamos por que é que os monstros não comem outros monstros? os monstros não nos comem, esta é a resposta, por uma questão de condição - os monstros são nossos amigos - e por uma questão de dieta - os monstros não são antropófagos.
ministry, “cannibal song”, in the mind is a terrible thing to taste, sire records, 1989.
15.6.08
xcviii. embora comece como manifesto, o corpo cresce até ao limite da soberania, transmutando-se em dispositivo de ofensiva, que, se cede à sedução da revolta, solta-se para a sedição. o que significa que, embora comece manifestado, o corpo confirma-se como instrumento da violência que suporta e devolve e com a qual é fundada a comunidade. se sob tais condições ninguém vê os monstros, é porque a amizade não é de ver, é de como ver.
elliott smith, “riot coming”, in new moon, kill rock stars, 2007.
1.6.08
xcvii. abandono? ou saída?, ninguém sabe. também pode ser dissidência, não se sabe. os monstros são estranhos no modo como convocam a nossa evasão, porque, mais do que a fragmentação da unidade dos nossos corpos e os destroços que daí resultam, interessam-lhes a reunião da solidão consigo e o motim que tal reunião consegue e suscita em nós.
bright eyes, “no one would riot for less”, in cassadaga, saddle creek records, 2007.
2005/2022 - constantino corbain (alguém por © sérgio faria).