22.2.09
cxix. voar tem como preço a queda, preço que se paga necessariamente em dor. ainda assim, é sempre a mesma ilusão, a ilusão de que alguém pode ser diferente de si - para salva-se da própria condição -, sendo quem não é, voando.
clinic, “the witch (made to measure)”, in do it!, domino recording company, 2008.
15.2.09
cxviii. não sabemos o que não sabemos. perante este facto, há duas hipóteses, ou ignoramos ou arriscamos. um modo disto é o apelo que fazemos ao outro lado, o negro. porque se estima que voam, presume-se que, por beneficiarem de perspectivas superiores, as bruxas sabem mais do que quem não sabe o que não sabe. o que significa que a presunção é o motivo delas.
el olio wolof, “red witch of my dreams”, in a tedious task, 2008.
1.2.09
cxvii. há só dois lados, costuma dizer-se, o direito e o avesso, o bem e o mal, não há vaga intermédia. admitida, esta asserção torna a geometria e a distribuição pelo espaço fáceis. mas de que lado estão os vultos e os corpos alados que extraímos de nós e imaginamos? estão no flanco nosso? ou estão no flanco alheio?, o dos monstros. a resposta falha justamente porque tais vultos e corpos alados são as sombras que, como irmãs negras, nos acompanham ou prenunciam. ao caçarmos essas sombras procuramos os espectros em que nos projectamos, disparamos sobre o nosso lado escuro, denunciamo-nos pelo escopo e pelo alvo, no arremesso e no acolhimento do impacto. isto não é feitiçaria, é estupidez.
iliketrains, “we go hunting”, in elegies to lessons learnt, beggars banquet, 2007.
2005/2022 - constantino corbain (alguém por © sérgio faria).